fevereiro 2, 2011 — jandirainbow
Foi por um triz.
Os últimos dias de janeiro de 2011 testemunharam uma demonstração massiva de solidariedade global com Brenda Namigadde. Cidadã de Uganda, negra, lésbica, Brenda fugiu de seu país há 8 anos, depois de ter sua casa queimada, em apenas mais uma das inúmeras demonstrações de intolerância e violência que ela viveu durante sua vida. Fugiu para a Inglaterra, onde apresentou pedido de asilo baseado no compromisso do Reino Unido de abrigar pessoas que estejam sob ameaça em seus países por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
A solicitação de asilo foi negada a Brenda por um juiz que alegou não ter evidências suficientes de sua homossexualidade, já que a moça não possui e não tem o hábito de ler revistas sobre a temática LGBT. À medida que a história de Brenda vai se desdobrando, notícias alarmantes surgem a respeito de como os casos de exílio LGBT são processados de maneira aleatória e às vezes francamente ofensiva. Quanto mais cavamos, mais claro vai ficando que o sistema de proteção de pessoas sob perseguição está terrivelmente cheio de falhas e exige a nossa atenção.
A deportação estava confirmada para o dia 21 de janeiro de 2011, mas houve um erro na lista de passageiros e o embarque teve que ser adiado para o dia 28 do mesmo mês. A jornalista Melanie Nathan do site
LezGetReal.comsoube da notícia e começou uma mobilização para salvar Brenda da violência e perseguição certas caso voltasse ao seu país.
Com a viagem confirmada para a última sexta-feira (28/1), LezGetReal se juntou à LGBT Asylum News, AllOut.org,GetEqual.org e colocaram no ar uma carta pública endereçada à Secretária do Interior do Reino Unido pedindo que Brenda não fosse deportada. Em apenas três dias, quase 60 mil pessoas assinaram a carta numa movimentação grande demais para ser ignorada por qualquer autoridade britânica. Brenda já estava dentro do avião quando chegou a liminar suspendendo sua deportação.
Foi uma vitória de um movimento global jovem, bem informado, comprometido com a garantia de direitos iguais para pessoas LGBT e conectado via internet pelo mundo todo. O que assistimos foi, provavelmente, a inauguração formal de um novo modelo de mobilização política pelos direitos sexuais, com a característica muito particular dos tempos atuais: a mobilização instantânea.
Uganda é atualmente um dos países mais perigosos para lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans viverem, segundo classificação da ILGA. As relações sexuais entre homens é punível com até 10 anos de reclusão, e o sexo entre mulheres é considerado ilegal. Enquanto diversos países da América Latina e Europa estão aprovando leis de igualdade para pessoas LGBT e casais formados por pessoas do mesmo sexo, em Uganda tramita uma proposta de lei que institui pena de morte para homossexuais. O parlamentar Ugandense que está promovendo a Lei Anti-Gays (que prevê pena de morte para homossexuais) ligou diretamente para Melanie Nathan para criticar a “cobertura de péssima qualidade” que ela vem fazendo desse tema em seu site, deixando claro que está acompanhando passo a passo o caso de Brenda. Chegou a dizer que estava aguardando Brenda chegar a Campala para se desculpar e se “reformar”, ou seja, “curar” sua lesbianidade. Ou…
Há uma semana, o caso de Brenda era virtualmente desconhecido, e era certa a sua deportação para Uganda, onde o querido ativista pelos direitos LGBT David Kato foi brutalmente assassinado na última quarta-feira. Mas graças a você e mais de 60 mil outras pessoas que enviaram cartas, marcharam pelas ruas de Londres e compartilharam a história de Brenda, nós construímos um apelo internacional que fez barulho demais para que a Secretária do Interior da Inglaterra Theresa May e outras autoridades daquele país pudessem ignorar.
É uma história incrível, mas ainda não acabou…
Hoje, dia 2 de fevereiro, o pedido de exílio de Brenda será revisado – a corte decidirá de uma vez por todas se aprova ou nega autorização para que possa viver aberta e livremente na Inglaterra. A situação parece positiva, com muitas pessoas levantando a voz em seu apoio. Mas nós precisamos manter a pressão sobre Theresa May e o governo inglês para que cumpram a promessa de priorizar pedidos de exílio de pessoas LGBT.
Portanto, se você ainda não fez a sua parte, ainda é tempo. Por favor espalhe a história de Brenda pelo mundo afora e diga ao Departamento de Interior do Reino Unido que você se importa com Brenda.
http://www.allout.org/brenda/taf
Por: Jandira Queiroz: Jornalista, ativista, feminista.
Foi por um triz.
Os últimos dias de janeiro de 2011 testemunharam uma demonstração massiva de solidariedade global com Brenda Namigadde. Cidadã de Uganda, negra, lésbica, Brenda fugiu de seu país há 8 anos, depois de ter sua casa queimada, em apenas mais uma das inúmeras demonstrações de intolerância e violência que ela viveu durante sua vida. Fugiu para a Inglaterra, onde apresentou pedido de asilo baseado no compromisso do Reino Unido de abrigar pessoas que estejam sob ameaça em seus países por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
A solicitação de asilo foi negada a Brenda por um juiz que alegou não ter evidências suficientes de sua homossexualidade, já que a moça não possui e não tem o hábito de ler revistas sobre a temática LGBT. À medida que a história de Brenda vai se desdobrando, notícias alarmantes surgem a respeito de como os casos de exílio LGBT são processados de maneira aleatória e às vezes francamente ofensiva. Quanto mais cavamos, mais claro vai ficando que o sistema de proteção de pessoas sob perseguição está terrivelmente cheio de falhas e exige a nossa atenção.
A deportação estava confirmada para o dia 21 de janeiro de 2011, mas houve um erro na lista de passageiros e o embarque teve que ser adiado para o dia 28 do mesmo mês. A jornalista Melanie Nathan do site
LezGetReal.comsoube da notícia e começou uma mobilização para salvar Brenda da violência e perseguição certas caso voltasse ao seu país.
Com a viagem confirmada para a última sexta-feira (28/1), LezGetReal se juntou à LGBT Asylum News, AllOut.org,GetEqual.org e colocaram no ar uma carta pública endereçada à Secretária do Interior do Reino Unido pedindo que Brenda não fosse deportada. Em apenas três dias, quase 60 mil pessoas assinaram a carta numa movimentação grande demais para ser ignorada por qualquer autoridade britânica. Brenda já estava dentro do avião quando chegou a liminar suspendendo sua deportação.
Foi uma vitória de um movimento global jovem, bem informado, comprometido com a garantia de direitos iguais para pessoas LGBT e conectado via internet pelo mundo todo. O que assistimos foi, provavelmente, a inauguração formal de um novo modelo de mobilização política pelos direitos sexuais, com a característica muito particular dos tempos atuais: a mobilização instantânea.
Uganda é atualmente um dos países mais perigosos para lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans viverem, segundo classificação da ILGA. As relações sexuais entre homens é punível com até 10 anos de reclusão, e o sexo entre mulheres é considerado ilegal. Enquanto diversos países da América Latina e Europa estão aprovando leis de igualdade para pessoas LGBT e casais formados por pessoas do mesmo sexo, em Uganda tramita uma proposta de lei que institui pena de morte para homossexuais. O parlamentar Ugandense que está promovendo a Lei Anti-Gays (que prevê pena de morte para homossexuais) ligou diretamente para Melanie Nathan para criticar a “cobertura de péssima qualidade” que ela vem fazendo desse tema em seu site, deixando claro que está acompanhando passo a passo o caso de Brenda. Chegou a dizer que estava aguardando Brenda chegar a Campala para se desculpar e se “reformar”, ou seja, “curar” sua lesbianidade. Ou…
Há uma semana, o caso de Brenda era virtualmente desconhecido, e era certa a sua deportação para Uganda, onde o querido ativista pelos direitos LGBT David Kato foi brutalmente assassinado na última quarta-feira. Mas graças a você e mais de 60 mil outras pessoas que enviaram cartas, marcharam pelas ruas de Londres e compartilharam a história de Brenda, nós construímos um apelo internacional que fez barulho demais para que a Secretária do Interior da Inglaterra Theresa May e outras autoridades daquele país pudessem ignorar.
É uma história incrível, mas ainda não acabou…
Hoje, dia 2 de fevereiro, o pedido de exílio de Brenda será revisado – a corte decidirá de uma vez por todas se aprova ou nega autorização para que possa viver aberta e livremente na Inglaterra. A situação parece positiva, com muitas pessoas levantando a voz em seu apoio. Mas nós precisamos manter a pressão sobre Theresa May e o governo inglês para que cumpram a promessa de priorizar pedidos de exílio de pessoas LGBT.
Portanto, se você ainda não fez a sua parte, ainda é tempo. Por favor espalhe a história de Brenda pelo mundo afora e diga ao Departamento de Interior do Reino Unido que você se importa com Brenda.
"Ninguém será livre até que todas as pessoas sejam livres."
http://www.allout.org/brenda/taf
Por: Jandira Queiroz: Jornalista, ativista, feminista.
Um comentário:
Excelente artigo, vou compartilhar.
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